sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O balanço do branco na fotografia.


E ela não viu o relógio mudar de 2 para 3, assim como não viu ele mudar de 1 para 2. Mesmo começando a ficar cansada, ela sabe que provavelmente, não verá também as próximas horas passar pela madrugada fria e chuvosa. Ela espreme os olhos com as mãos e massageia suas têmporas sentindo a sua vista ficar turva e aproveita esses segundos para fechar os olhos. Uma lágrima escorrega pela a sua face, sem pressa, ela limpa o rosto e ainda com os olhos fechados e exprimidos, solta um suspiro baixo, quase que inauditível, não é um suspiro de alívio, quisera ela que fosse, mas não é. Ela suspira de dor, uma dor que vem a acompanhando há alguns dias, ou, semanas talvez. Ela não se lembra mais quanto tempo faz, desde que aconteceu, a palavra tempo e o seu significado parece ter sido abolido da vida dela, porque tudo o que ela quer é voltar no tempo.

Sem se preocupar com o barulho que vai fazer, ela se levanta, arrastando a cadeira, vai até o banheiro e sem encarar a sua imagem no espelho, enche as mãos em formato de concha, com água fria, solta mais um suspiro de dor, e após preparar a quarta xícara de café arábica, ela retorna para a sua escrivaninha, se acomodando como pode na dura cadeira de estofado preto. A sua playlist ainda está tocando, Maroon 5 canta uma canção sobre o doce adeus, "Sweetest Goodbye", ela ri ironicamente para si, se ela ao menos tivesse tido esse tal de doce adeus, talvez, ela não estaria presa em lembranças nesse momento.

Em vão, ela checa novamente o seu celular. Três horas da manhã e nenhuma chamada, foi assim na noite anterior e na semana passada também. Nenhuma chamada, nenhuma mensagem. Joga o celular na cama e apaga a luz do abajur, o seu corpo começa a dar sinais de que precisa descansar, mas, ela não se sente preparada para encarar o teto do seu quarto, deitada em sua cama que agora, fica com um lado vazio.

Puxando a coberta da cama para si, ela se envolve e se acomoda na cadeira. Ainda tem o cheiro dele na coberta, uma mistura de cheiro de shampoo com o cheiro do perfume amadeirado que ele tanto gostava de usar. Ela inala o cheiro, se sentindo um pouco inebriada com as lembranças que o cheiro lhe trouxe. A saudade bate forte e lhe aperta o peito.

Toma mais um gole do seu café que está começando a ficar frio e aperta enter na tecla do seu computador. O monitor se acende e ela olha para a foto dele, o seu sorriso tácito parece ser capaz de atravessar a tela de LCD e chegar até ela, tocando-a de uma forma singular. Ela sorri de volta para ele, que está em pé em uma montanha com os braços abertos, abaixo dele, o azul do mar se funde com o verde da vegetação, mas, ela parece nada mais ser capaz de enxergar, nada além dele em sua camiseta branca, porque agora, ou, desde que ele partiu, tudo o que lhe resta é o balanço do branco na fotografia.

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