segunda-feira, 30 de abril de 2018

Adeus, meu chinês



Eu já senti vários tipos de dor. Vários mesmo. Mas nunca havia sentido essa dor: a de ver o exato momento em que o seu coração parou de bater. Doeu muito. Ainda dói.
Você não me acordará mais pela manhã pra eu abrir a porta pra você ir urinar, não sentará mais em frente à gaveta dos seus biscoitos - que aliás, ainda está cheia deles -; não colocará mais a pata em meu colo em um pedido de carinho, não assumirá mais o sofá nos domingos de manhã quando o papai sair para andar de moto, eu não deixarei mais você subir escondido do papai na cama ou sofá como a gente fazia, a gente não vai mais brincar de guerra de braço e eu não vou mais te dar bata frita do Mc Donald’s por debaixo da mesa.
Você não vai mais abanar o rabinho pra mim quando eu chegar do trabalho e nem ir atrás do papai pra brincar com ele quando ele chegar. Você não vai mais esperar a van trazer a Victoria da escola, eu nunca entendi como você sabia o horário exato em deveria ir para o portão. Eu não vou mais ouvir você resmungar na porta do quarto nas minhas tentativas frustadas de fechá-la e deixá-lo para fora, você sempre quis estar presente, perto de nós.
Você não vai mais perseguir luzinhas no chão e nem tentar comer a parede. Não vai mais fugir do quarto quando eu ligar o secador.
Você não vai mais me fazer companhia, deitado de frente à minha estante de livros enquanto eu escrevo. Meu Deus, como vou sentir falta disso!
Você não vai mais comer pão de queijo. E também não vai mais se jogar no colo da vó quando ela vier em casa e se sentar no sofá.
Você não vai mais roubar as meias da Victoria ou do papai, nem comer o led da cortina, não vai mais me olhar com aquele olhar de que sabe que fez arte, nem com aquele olhar de “ me faz um carinho?”.
Você partiu.
Eu o vi partir.
Eu orei por você.
Eu já estou com saudades.
Eu amo você.
E eu só tenho a agradecer.
Foram mais de nove anos de momentos felizes ao seu lado, nove anos bem vividos. Você foi tema de festa de aniversário da Victoria, que aos 5 anos, disse que queria você como decoração, você foi o irmão que nós não demos a ela, um irmão peludo e com língua roxa, você foi a nossa melhor escolha, meu bebê chinês preto de olhos rasgados. Obrigada por tudo. Faça a festa aí em cima!



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domingo, 29 de abril de 2018

Escolhas que nos destroem




Eu hoje me preparo para o que será um dos dias mais difíceis da minha vida.
A gente não nasce pra perder as pessoas que amamos. E também não nascemos pra perder o animal que amamos.
Amanhã, a nossa escolha trará um imenso alívio a ele, que já não levanta mais e já não come há dias, mas trará a maior dor do mundo para nós, que durante 9 anos, o amos, mimamos, brincamos e compartilhamos uma infinidade de momentos de alegria.
Hoje meu coração está despedaçado porque não há outra saída ou outra escolha. O amor não pode nunca, jamais, ser justificado com qualquer ato de egoísmo, mantê-lo por mais tempo conosco nesse estado, seria no mínimo egoísmo e também cruel.
As palavras que tanto quero dizer para expressar essa dor, saem de mim em forma de lágrimas e eu tendo ser forte porque minha filha está sentada ao lado dele há uma hora, em uma despedida silenciosa, mas eu não consigo ser forte por ela e nem por mim, porque a verdade é que a força está justamente nas lágrimas salgadas e repletas de sentimentos contraditórios como dor e amor, gratidão e dúvidas, desespero e conforto.
Temos apenas mais 24 horas ao lado desse ser que para nós, é quase humano. Acreditem, ele conversava com a gente ( e entendia quando a gente conversava com ele). Não serão as 24 horas mais difíceis porque sei que difícil mesmo será a partir de amanhã, quando pela casa, já não verei mais meu chinês preto de língua roxa soltando pêlos pela casa, mas serão as nossas últimas 24 horas juntos. Então, meu amorzinho, se temos o só por hoje, que seja pleno.


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segunda-feira, 23 de abril de 2018

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Sem defesas




Encostada na parede, ela o observou enquanto ele lutava para esconder a sua falta de jeito.
Ele odiava quando era colocado em situações em que se sentia exposto, todos seus passos eram sempre meticulosamente calculados e planejados, mas, mesmo assim, o seu desconforto com o improviso não era assim tão perceptível, somente os mais atentos, como ela, conseguiria reconhecer que ele estava sem defesas, as defesas que ela tanto ama ver sumir.
Ah, se ele soubesse como ele fica fascinante quando está sem elas, as abandonaria mais vezes...

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