quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Branco e Preto



So Sorry - Feist - Spotify


Ela sempre acreditou que para muitas coisas da vida, ou eram pretas ou brancas, se o cara não dizia que amava a garota, é porque não sentia nada, se o namorado não elogiava, é porque não reparava, se o contatinho não ligava, é porque não sentia saudades, se o outro não pedia desculpas, é porque não se importava. Se não defendeu o amigo em uma briga, é porque era conivente, se não defendeu o colega de trabalho perante uma injustiça, é porque também era injusta. Ela não entendia que havia mais do que o sim ou o não.

Ou era ou não era. Ou sentia, ou não sentia.

Quando jovem, entrou em uma briga de rua para defender seu melhor amigo que estava brigando justamente para defendê-la, o cara com que ele brigava estava com um soco inglês na mão e seu amigo não viu, ela não se conformou que seus outros amigos e até a namorada do seu melhor amigo, não fossem fazer nada e não pensou duas vezes antes de entrar no meio dos dois para defendê-lo. Para ela ou era ou não era. Ela era amiga dele e não havia justificativas para não fazer aquilo.

Talvez porque para ela, era assim, ela dizia, fazia, sentia, ela era ou preto ou branco e sempre deixava os outros saberem qual cor era. 

Ela sempre defendeu a bandeira do “quem quer arruma um jeito”, acreditava que as coisas eram simples assim. Se fulano não fez tal coisa, é porque não quis de verdade. Ela não procurava motivos ou justificativas, apenas acreditava que na verdade ambos não existiam e seguia cega em sua visão simplificado das coisas.

Mas as coisas não são tão simples assim, são?

Ela percebeu que entre o branco e o preto há uma variedade enorme de cores, percebeu que às vezes, a falta de ação, a falta de palavras ou a falta de gestos, escondem motivos que os justifiquem e que ela apenas não podia saber ou simplesmente não enxergava. Ela mudou de opinião ao perceber que havia se tornado aquilo que ela julgava. Ela se calou quando deveria ter dito e ela sabe o porquê, mas com certeza quem esperava que ela não se calasse, não sabe, e talvez esteja pensando a mesma coisa que ela já muito pensou: se não fez, se não  disse, é porque não se importava.

Ela sabia que se jogaria na frente de uma bala por ele, mas deixou que ele fosse atingido por algo muito menor, porém, com o mesmo poder letal.

Ela sempre fora aquela que era decepcionada, hoje, ela foi a que decepciona.

Ela sempre teve orgulho de si por ser aquela que solta a voz quando todos calam, hoje, ela é a que se envergonha por ter calado, quando mais deveria falar, e o motivo? Ah... no fim das contas de que importa? 

Hoje ela aprendeu que há mais cores entre os simplistas branco e preto, mas que mesmo assim, o que importa são somente ambas, é somente o fez ou não fez, o disse ou não disse, porque mesmo havendo motivos, eles nunca sobrepõem a decepção.


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