So Sorry - Feist - Spotify
Ela sempre acreditou que para muitas coisas da vida, ou eram
pretas ou brancas, se o cara não dizia que amava a garota, é porque não
sentia nada, se o namorado não elogiava, é porque não reparava, se o contatinho
não ligava, é porque não sentia saudades, se o outro não pedia desculpas, é porque
não se importava. Se não defendeu o amigo em uma briga, é porque era
conivente, se não defendeu o colega de trabalho perante uma injustiça, é porque
também era injusta. Ela não entendia que havia mais do que o sim ou o não.
Ou era ou não era. Ou sentia, ou não sentia.
Quando jovem, entrou em uma briga de rua para defender seu
melhor amigo que estava brigando justamente para defendê-la, o cara com que ele
brigava estava com um soco inglês na mão e seu amigo não viu, ela não se
conformou que seus outros amigos e até a namorada do seu melhor amigo, não
fossem fazer nada e não pensou duas vezes antes de entrar no meio dos dois para
defendê-lo. Para ela ou era ou não era. Ela era amiga dele e não havia
justificativas para não fazer aquilo.
Talvez porque para ela, era assim, ela dizia, fazia, sentia,
ela era ou preto ou branco e sempre deixava os outros saberem qual cor era.
Ela sempre defendeu a bandeira do “quem quer arruma um
jeito”, acreditava que as coisas eram simples assim. Se fulano não fez tal
coisa, é porque não quis de verdade. Ela não procurava motivos ou
justificativas, apenas acreditava que na verdade ambos não existiam e seguia
cega em sua visão simplificado das coisas.
Mas as coisas não são tão simples assim, são?
Ela percebeu que entre o branco e o preto há uma variedade
enorme de cores, percebeu que às vezes, a falta de ação, a falta de palavras ou
a falta de gestos, escondem motivos que os justifiquem e que ela apenas não podia saber ou simplesmente não enxergava. Ela
mudou de opinião ao perceber que havia se tornado aquilo que ela julgava. Ela
se calou quando deveria ter dito e ela sabe o porquê, mas com certeza quem
esperava que ela não se calasse, não sabe, e talvez esteja pensando a mesma
coisa que ela já muito pensou: se não fez, se não disse, é porque não se
importava.
Ela sabia que se jogaria na frente de uma bala por ele, mas deixou que ele fosse atingido por algo muito menor, porém, com o mesmo poder letal.
Ela sempre fora aquela que era decepcionada, hoje, ela foi a
que decepciona.
Ela sempre teve orgulho de si por ser aquela que solta a voz quando todos calam, hoje, ela é a que se envergonha por ter calado, quando mais deveria falar, e o motivo? Ah... no fim das contas de que importa?
Hoje ela aprendeu que há mais cores entre os simplistas
branco e preto, mas que mesmo assim, o que importa são somente ambas, é somente o fez ou não fez, o disse ou não disse, porque mesmo havendo motivos, eles nunca sobrepõem a decepção.
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