segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Caixa de Lembranças

Não é que eu tenha te esquecido, eu apenas decidi seguir em frente e para fazer isso, eu tive sim que colocar em uma caixa com um grande cadeado, todas as nossas lembranças. E foram tantas lembranças, que olha, quase que não coube em uma única caixa.

É claro que eu tive que fazer uma seleção do que eu queria realmente guardar. O dia em que você me contou que havia conhecido outra pessoa, esse, eu fiz questão de deixar de fora. Mas, eu coloquei dentro dela aquele dia em que você olhou em meus olhos e disse o quanto eu era especial para você. Eu sorrio sozinha cada vez que me lembro desse dia.

E por falar em sorrir, joguei fora também a lembrança do dia em que eu te vi sorrindo ao lado dela. Eu joguei fora a lembrança, mas a dor daquele dia parece estar cravada dentro de mim. E acho que ficará aqui para sempre.

Lembra do dia em que você colocou em seu carro aquele CD de músicas antigas e que cantamos juntos várias delas? Estávamos felizes... Esse dia eu guardei na pasta de "Dias mais felizes". É, eu tenho um arquivo mental separado por categorias de sentimentos e sensações. Maluco isso, não é?

O nosso primeiro beijo está na pasta " O melhor de todos". Eu também guardei essa pasta em minha mega caixa de lembranças.

Você sempre soube que eu tenho uma forte admiração por pessoas que se mostram como são de verdade, com suas fraquezas (principalmente com elas), sem amarras, sem receios, não é? Então, no dia em que você criou coragem para me mostrar a versão de você que ninguém mais conhecia, foi um dos dias mais gratificantes para mim. Eu te amei um pouco mais naquele dia e ele está arquivado na pasta "Jamais vou esquecer".

Quer saber em que pasta está a nossa primeira transa?

Na pasta " Êxtase". Eu sei, é meio clichê ter uma pasta com esse nome, mas é que eu nunca tinha estado com alguém antes que se preocupasse em me dar prazer mais do que ter prazer, por isso, o nome da pasta. E eu tenho que confessar, ela está cheia de recordações nossas e é claro que também a guardei em minha caixa. É uma pasta gorda, grande e cheia de corações cafonas pintados em rosa e vermelho.

Eu guardei também a pasta "Melhores momentos", nela estão arquivados os dias perfeitos, aqueles em que suas mãos entrelaçavam com as minhas e que éramos uma mistura de paixão, amor e prazer.

Guardei também na imensa caixa de lembranças a pasta chamada " Sentimentos não verbalizados". Nela contém todas as palavras não ditas entre nós, que ficaram presas em nossas garganta
s e todos os sentimentos não verbalizados, porém, mostrados com os olhares.

Sabe, o fato de eu ter encontrado uma nova possibilidade de ser feliz, não quer dizer que eu tenha te superado, apenas quer dizer que você me mostrou o que é ser feliz e que depois que você se foi, eu me descobri dependente desse sentimento, essa era a pasta mais acessada enquanto o "nós" ainda existia e por isso, eu tive que encontrar um meio de voltar a preenchê-la.

Ele tem me causado borboletas no estômago. Se é o que quer saber. Mas ainda não criei uma pasta específica para ele. Estou deixando acontecer, sem pressa, sem expectativas.

E é por isso que eu precisei colocar todas as pastas, com todas as nossas lembranças, em uma caixa e trancá-la, porque eu precisava abrir novos espaços dentro de mim, para viver novas experiências, novos sentimentos, novas emoções.

Eu só quero que saiba que guardei a nossa história em uma caixa e a tranquei com um cadeado, mas que eu não joguei a chave fora, eu jamais faria isso.

Texto publicado originalmente para o site Puta Letra - Clique aqui e dê o seu coraçãozinho lá no site




domingo, 13 de setembro de 2015

Eu não era a Cinderela


Ele não chegou montado em um lindo e majestoso cavalo branco, vestido em um imponente traje de príncipe encantando e com um sapatinho de cristal nas mãos à procura da sua Cinderela. Para ser sincera, eu já nem me lembro mais com qual roupa ele estava quando aquilo – que a gente chama de se apaixonar – aconteceu.

Mas eu lembro exatamente do que senti naquele dia.

O nosso primeiro beijo não foi um beijo de cinema com direito a trilha sonora de fundo – mas se eu pudesse escolher, teria escolhido Chasing Cars – ele foi tenso. Duro. Repleto de anseios, vontades e medos.

E ainda assim, foi o melhor primeiro beijo da minha vida.

As suas palavras não eram doces como um pudim de leite. Ele não tentou me ganhar recitando Drummond ou Shakespeare. Ele foi sincero desde o começo, demonstrando a sua total ineficiência e inabilidade em ser um verdadeiro príncipe.

E eu nem mesmo queria que ele o fosse.

Quando me tocou, ele não exaltou o quão suave era sentir a minha pele sob os seus dedos. Ele simplesmente sorriu e naquele momento eu fui dele, eu me entreguei a ele no exato instante em que senti que já não fazia mais sentido me esconder dentro de mim mesma. Eu apenas senti o seu toque e palavra nenhuma precisou ser dita para representar aquele momento de entrega e redenção.

Ele não se agachou sobre os seus joelhos e estendeu para mim uma caixa de veludo preta com um anel de diamantes dentro. Não houve pedido de casamento. Nem namoro. Ele apenas pediu para que eu o deixasse pertencer ao meu mundo e esse, foi um pedido silencioso.

E eu deixei.

O que tivemos, não teve rótulos. O que sentimos, não foi falado. O que vivemos, foi apenas, vivenciado. Onde cada minuto ao lado dele, era um minuto de felicidade. Cada sorriso dado foi com toda certeza o meu sorriso mais verdadeiro. E cada lágrima, a mais dolorida.

Mas acabou. Não teve um final feliz, e tampouco infeliz. Apenas teve um fim e, nós fomos um do outro sem sermos. Sem expectativas. Sem cobranças. Sem sonhos irreais, tudo porque ele não era um príncipe encantado e nem eu a Cinderela.

Texto publicado no site Puta Letra - Aqui

domingo, 6 de setembro de 2015

Como um livro que você leu


No começo vai doer. E você vai fingir que não.

Você vai chorar silenciosamente sentindo como se tivessem quebrado o seu coração em mil pedaços. E provavelmente tenham.

Vai ter dias, que você vai desejar não lembrar. Vai implorar para que o tempo passe como um cometa e leve com ele todas as lembranças daquela época que você acreditou que nunca iria passar.

Pode ser que você ainda o veja por algum tempo em todos os lugares, em todos os rostos e em todos os sorrisos.

Provavelmente, por um bom tempo, cada vez que olhar um casal feliz, inevitavelmente se lembrará de um casal que também foi igualmente feliz: vocês.

Eu queria dizer que as músicas que vocês ouviam juntos e que pareciam contar a história da vida de vocês, com o passar do tempo, vão ser apenas músicas, mas, não posso fazer isso, porque nem uma década será capaz de apagar as lembranças que uma música compartilhada entre um casal apaixonado, carrega. Elas serão o seu castigo e a sua salvação. Elas farão você lembrar dele e talvez isso lhe cause dor, mas também lhe trarão boas lembranças, quando você lembrar dele.

Mas, ainda assim, eu te digo que isso vai passar. Você vai se lembrar menos dele a medida que novas noites terminem e novos dias comecem.

E no fim, com o passar dos anos, ele vai ser como um livro que você leu. Vai ser como uma daquelas histórias que nos preenchem o coração e a alma quando estão sendo lidas, que nos enchem de esperança a cada página virada, que nos tiram lágrimas e também suspiros, mas, que como toda e qualquer história, que terminam.

Talvez ele se torne o seu personagem literário favorito. Ou, talvez, outros personagens apareçam, em outras histórias, em outros livros, mas ainda assim, acredite, se ele foi realmente importante, ele sempre estará na sua estante de livros como o livro que um dia lhe proporcionou uma infinidade de pequenos instantes de felicidade.

Texto publicado originalmente no site Puta Letra (aqui)

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Tinha que ter dito

Eu acordo assustada, com aquela estranha sensação de que o sonho – ou melhor – pesadelo, era real. Pego o celular. Três e quinze da manhã. O jogo ao meu lado na cama e então me dou conta de que a única coisa que há ao lado do meu travesseiro, é outro travesseiro. E  com os olhos fechados, me dou conta de que o pesadelo não é aquele que acontece enquanto eu durmo. O pesadelo mesmo, acontece todos os dias, quando eu acordo e sou atropelada pela a realidade crua e esmagadora de que eu perdi aquele que deveria ser – por uma conspiração do universo – o amor da minha vida.

Fecho os olhos desejando voltar para o pesadelo, pelo menos você estava nele, mesmo que em uma imagem borrada e distorcida, eu conseguia enxergar um quase sorriso em seus lábios. Estávamos nos despedindo. Não dissemos adeus. Não dissemos até logo ou até um dia. Era uma despedida silenciosa, onde os nossos olhares diziam aquilo que nossas bocas não conseguiam pronunciar. E é por isso que era um pesadelo, porque havia tanta coisa a ser dita naquele momento de despedida compartilhada, tantas palavras gritando desesperadamente para sair, tanta coisa que eu queria ter dito. Tinha que dito…

E eu não disse. Eu não olhei nos seus olhos e disse que o amava. Não segurei o seu rosto entre as minhas mãos para que você pudesse me olhar e ter um vislumbre do que eu realmente sentia – e ainda sinto – por você. Eu apenas o deixei partir, como se estivéssemos em uma estação de trem, eu o vi embarcar e não me movi. Seus olhos, através da janela do trem, pareciam implorar para que eu fizesse algo. Eu tinha que ter dito.

Você se foi. Não de trem, mas se foi. Partiu para algum lugar que não sei onde. Em busca de algo que não sei o que é. Apenas partiu. E um buraco se abriu dentro de mim. Eu tinha que ter dito. Porque está difícil engolir as palavras que ficaram travadas em minha garganta. Cada vez que tento, como se fossem facas afiadas, elas parecem me rasgar, estou forçando a natureza delas, palavras como essas que não pronunciei, não foram criadas para serem silenciadas por covardia, não, elas só fazem sentido e ganham força, quando são pronunciadas.

É… eu tinha que ter dito que te amava.

Mas eu não disse. E agora tudo o que me resta é decidir se fecho os olhos e volto a dormir, para quem sabe, ter a sorte de ter o mesmo pesadelo e me contentar em vê-lo nele, ou se continuo acordada e me torturo mais um pouco por não ter dito… Aquilo o que eu tinha que ter dito.

(Texto publicado originalmente para o site Puta Letra - clique aqui e curta )

segunda-feira, 22 de junho de 2015

E se...?


E se…?
Quantos romances não se concretizaram por causa da junção dessas duas palavras?
Quantas lágrimas derramadas na noite escura e serena por aqueles que não tiveram coragem de ir a diante, de dar aquele passo a mais que divide o “como é” do “como poderá ser”?
Quantos amores perdidos porque alguém ficou com medo do “e se…?”, com medo de se declarar, de abrir o coração e escancarar para o mundo e para a outra pessoa, o que sente por ela?
E quantos amores perdidos porque alguém não teve medo do ” e se…?”, medo de um dia, no fim da vida, se perguntar como ela seria se…
Eu tenho medo do “E Se…?”. De todos os meus medos, esse é o maior. Medo do “e se…?”que antecede o próximo passo e também, do “e se…?” daquilo que já passou e não volta mais.
E se estivermos cometendo a maior burrada das nossas vidas? Será que vamos lá na frente, olhar para atrás e nos arrepender de não termos tentado?
E se foi amor de verdade?
E se existir somente um único amor para cada pessoa? Significa então que perdemos a nossa chance só porque tivemos medo do “e se” e de todas as consequências e recompensas que com ele viriam?
E se tivéssemos insistido mais?
E se tivéssemos sidos mais sinceros um com o outro em relação aos nossos sentimentos? Seria isso capaz de evitar a nossa separação?
E se tivéssemos tido a coragem para dizermos em voz alta aquilo que gritava em nossos peitos, implorando para sair, será que evitaria essa dor esmagadora que estou sentindo agora?
E se sentirmos saudades das nossas risadas? Se sentirmos falta de compartilharmos nossas conquistas e também de dividir nossas frustrações, como será?
E se eu tivesse tido a audácia de pedir que ficasse comigo, será que você teria pelo menos considerado a hipótese?
E se tivéssemos ido além? O nosso amor resistiria à todas possíveis provações?
E se pudéssemos voltar ao tempo, faríamos diferente?
E se a nossa história de amor acabar se transformando em “apenas mais uma história de amor”?
E se esse vazio tão cheio de você, nunca mais passar?
E se tivéssemos vivido o caos até ele virar ordem?
E se as trilhas dos nossos caminhos voltarem a se cruzar lá na frente, conseguiremos deixar para trás todos os “e se´s” que nos atormentavam e seguir daquele ponto em diante?
Eu queria ter as respostas para todos esses “e se´s”, mas eu não tenho, a única coisa que eu sei é que se eu pudesse escolher viver tudo de novo, eu escolheria viver novamente com você.

(Texto publicado originalmente no site Puta Letra - Aqui )

quinta-feira, 12 de março de 2015

O dia em que eu soube que era amor



Era para ser só mais uma transa, sabe?
Não que eu não esperasse que ela fosse intensa ou maravilhosa porque todas as transas com você foram assim ,mas eu não esperava sentir o que senti. Foi mais do que eu posso expressar em palavras.

Foi com uma troca de olhar que tudo começou. Tudo começa com uma troca de olhar não é mesmo? -Ou de um sorriso - mas com  gente foi o olhar mesmo. Nem foi assim aquele tipo de cena de cinema onde tudo congela ao redor, nós apenas nos olhamos por alguns segundos antes de trocarmos a primeira palavra.

- Bom dia. - Você disse. Na época eu não sabia que esse bom dia viria a ser o meu combustível matinal para aguentar seja lá o que o dia havia reservado para mim.

Eu respondi com um bom dia.

Um pouco envergonhada, eu sei. Desde o primeiro dia você me afetou ao ponto de me deixar encabulada perto de você.

Em pouco tempo, eu estava vivendo a melhor transa da minha vida. Mas era só transa afinal eu não queria me envolver emocionalmente.  Pra que correr o risco de se quebrar novamente?  Eu já tinha uma coleção de rachaduras, não queria mais uma.

A frequência dos nossos encontros casuais foram aumentando. A transa já tava começando a ter outro nome. Da mesma forma que o contato que antes era vez ou outra, começou a ser diário. E você se tornou a minha dose diária de alegria.

E lá estávamos nós, compartilhando Segredos. Sonhos. Vontades.

E foi às dez e meia de uma manhã qualquer que eu percebi o inevitável. Você me segurou pela cintura e me colocou sobre o seu colo e eu congelei. Você não percebeu? Eu lembrei de todos os momentos que tivemos juntos e todas às vezes que suas mãos seguraram assim, firmes na minha cintura e aí lembrei de todos (que não são muitos) os caras errados que já colocaram as mãos nela. Porque cara, você sabe que você é o cara certo, não sabe?

Você revirou os olhos quando eu me afundei em você. Quando já não era mais transa que estávamos fazendo.

Era amor.

E aí, eu já não consegui mais ouvir que música estava tocando de fundo, não consegui mais definir qual era a cor do lençol em que estávamos deitados nem qual era a cor da parede. Eu só consegui me concentrar na sua respiração ofegante e nos batimentos insanos do meu coração.

Era para ser só mais uma transa, mas foi ali, quando os seus dedos entrelaçaram com os meus, que eu disse em silêncio que eu te amava. E eu disse, mesmo sem você ouvir, porque eu tive certeza de que era amor.

terça-feira, 3 de março de 2015

Vai



Assim, vai, mais dessa vez, vai de vez. Vai e leva embora com você tudo o que conseguir levar. O CD dos Beatles. Aquele porta retratos de moldura preta. As minhas lembranças. Os nossos momentos. Se possível, leva também as minhas lágrimas.

Eu já não tenho mais como te pedir para ficar. Eu já nem sei se quero mais que você fique. Acho que hoje, a única coisa que quero é que você vá e me deixei aqui, enrolada nesse lençol de flores roxas curtindo a minha deprê.

Ok. A culpa também é minha. Eu facilitei, eu sei. eu devia ter segurado na sua mão e te pedido para não ir na primeira vez que senti que o estava perdendo, que estávamos nos perdendo. Agora é tarde demais, até mesmo para nós, que nunca acreditamos no "tarde demais".

Quando você chegou, você me fez acreditar que veio para ficar e agora, descobri que na verdade, você quis apenas sentar para uma xícara de café e nada mais. Então, você conhece o caminho. Já o fez milhares de vezes. Abre a porta e tenta não fazer barulho, porque dói tudo aqui, a cabeça pesa e o estômago congela. Abre e fecha a porta como se nunca tivesse estado aqui.

Leva aquele sorriso abobado que só você sabia tirar de mim. Leva esse maldito frio na barriga que agora virou gelo porque já não o quero mais sentir, não sem você aqui para derretê-lo.. Leva também da minha memória aquele dia em que você prometeu que dias como esse, nunca aconteceriam. Leva a sua boxer preta que esta guardada em minha gaveta. O seu pote de balas de menta - que eu nunca gostei mesmo - ele já não tem mais serventia aqui no meu quarto.

Vai e não esquece de levar a sua coleção de O Hobbit, porque olhar para ela me fez lembrar da gente deitado no sofá com um balde vermelho de pipocas em um domingo chuvoso, assistindo a coleção inteira, sem nos preocupar se o celular está tocando, se tem mensagem apitando ou alguém chamando.

Não diga nada, não quero ouvir o seu último adeus. Também não olhe para mim, não quero ter a lembrança do seu último olhar, o olhar que me perdi diversas vezes, quero apenas abraçar-me e deixar-me ser levada para outro lugar. Um lugar onde você ainda me olha com amor e ainda me quer na sua vida. Um lugar que não existe mais.

Então, apenas vai.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Parceiros do Crime

Você pode clicar aqui e ler esse texto ao som de Am I Wrong - Nico & Vinz

Eu sei. Eu não devia estar escrevendo, afinal, não há mais história para ser escrita. Essa carta, que mais parece um grito de adeus, talvez nem chegue às suas mãos. Talvez ela se perca no meio do caminho. Talvez eu mesma a faça se perder, dando a ela algum outro rumo menos doloroso do que esse.

Mas, é em nome da nossa história - que hoje não existe mais - mas que um dia existiu e foi bela, que eu estou a te escrever. Lágrimas nos olhos (como sempre), nó na garganta e aperto no coração. Sintomas já tão bem conhecidos por mim e que ainda me afetam de uma forma dura e cruel. Ouvir a sua voz novamente, após tanto tempo sem nenhum contato físico, fez passar em minha mente, um filme. O nosso filme. Trechos dos nossos belos e intensos momentos, dançaram em minha cabeça, trazendo lembranças adormecidas de como era gostoso olhar em seus olhos e depois disfarçar, envergonhada. De como a entonação da sua voz fazia me sentir segura e protegida. De como o seu meio sorriso me fazia me sentir feliz por ser merecedora de recebê-lo. 

De como eu o amava.

Eu fingi indiferença quando senti o toque macio dos seus lábios em minha bochecha, como se aquele ato não me afetasse em nada, como se eu não tivesse sido acometida por uma vontade arrebatadora de deslizar meus dedos entre os fios dos seus cabelos e te puxar para um beijo.

O nosso beijo.

Fingir indiferença é mesmo uma merda! Sorriso nos lábios. Soco no estômago. Mãos frias e suando. Pernas bambas. Lágrimas querendo desesperadamente escapar só pra ter o gostinho de dizer: Olha aqui, eu que mando nessa porra e eu vou escorrer por quanto tempo for necessário, entendeu? E eu entendi e na mesma hora virei o rosto, porque eu sei que essas malditas lágrimas não estavam de brincadeira, elas iriam me entregar em questão de segundos se eu continuasse olhando para o seu lindo sorriso-sinto-saudades-de-você.

E eu também sinto.

Sinto saudades das nossas loucuras, aquelas que compartilhamos durante tanto tempo. Éramos parceiros do crime - ou do amor. Eu era a Bonnie, loucamente apaixonada por você e você era o meu Clyde, altamente perigoso - para o meu coração - e extremamente excitante - para o meu corpo. Fomos leais um ao outro, assim como o casal de criminosos mais famoso do mundo foram. E o nosso crime foi o de não saber o que fazer com o que sentíamos. Não houve culpados, não houve julgamento. Apenas ausência de coragem.

Coragem para entrarmos em um carro dirigindo a 200 KM por hora, com o capô aberto e o vento chicoteando em nossos rostos, nos mostrando que podemos ser livres. O carro era a nossa vontade de ficar juntos, a velocidade, o que teríamos que enfrentar para isso e o vento, a recompensa por termos sido atrevidos demais para fazer tal loucura.

E nós não fizemos. E nem houve despedida ou coisa assim. Apenas os parceiros de crime deixaram de existir, eu desisti da vida de momentos intensos e você decidiu que era hora de cometer outros crimes por aí. Com outra pessoa talvez.

E aí, tanto tempo depois, seus olhos me prendem e me levam para uma outra dimensão e eu me pergunto se não devíamos ficar por lá, recomeçar nossos crimes em busca da felicidade.

Porque Bonnie nasceu para ser de Clyde e Clyde nasceu para amar Bonnie. Não importa o que aconteça.

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