domingo, 5 de julho de 2020

Furacão Silencioso


Eu menti. Pra você e pra mim. Eu disse que eu estava protegida... protegida de você, mas agora sei que não. Eu nos enganei, não percebi que o muro que criei ao meu redor durante tanto tempo, era na verdade uma barreira de areia que você facilmente derrubou.

Você chegou como um furacão silencioso, sabe? Foi levantando poeira em cada cantinho oculto das minhas emoções, arrastando os móveis e também os meus sentimentos, mas ao mesmo tempo em que foi bagunçando tudo aqui dentro, você também foi colocando tudo no lugar, só que agora em outro lugar e eu tô com medo, entende? Medo de não encontrar mais as coisas como elas costumavam ser e de não saber lidar com essa reforma  que o furacão de olhos verdes brilhantes, tão brilhantes quanto uma lua cheia em noites de verão, causou.

Você abriu a cortina dizendo que eu devo deixar a luz entrar, mas essa luz tá me ofuscando e eu não to conseguindo enxergar nada. Eu quero voltar pra segurança do escuro, mas sua voz não me deixa, ela fica aqui dizendo que está na hora de eu abrir a porta do meu armário e enfrentar meus monstros.

Eu to com medo da luz muito mais do que da escuridão que tenho vivido.

Eu virei do avesso, a casa agora está diferente, com alguns vasos quebrados e tem uma torneira idiota cheia de lágrimas que insiste em permanecer aberta.

Eu to sentada no chão olhando para o nada, pensando em tudo o que você me deu.

O problema é que eu nunca soube a hora certa de encerrar uma frase. Eu nunca sei colocar ponto final nas minhas histórias e eu não quero que você seja mais uma história sem fim.

Eu me apresentei nua para você, eu desci do salto e expus meus pecados, você me viu sem maquiagem, crua, com remendas e mesmo assim, eu vi seus olhos reluzirem admiração, você enxergou todas as minhas rachaduras e não se intimidou ou tampouco me julgou e agora você continua aqui em minha cabeça, dizendo que não devo desistir de ser quem sou.

Você elevou o nível para outro patamar, entende? Como agora eu posso aceitar nada menos do que alguém igual a você se são poucos como você?


terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Até não sermos mais





"I want you bad, but it´s done
I´m bleeding out, ´cause we can go on
I want you bad, ´til I shake
I want what we have, but what´s broken don´t unbreak"

Chegou a hora, não é mesmo?
Ficamos juntos tempo suficiente para eu vê-lo tomar banho sem seus chinelos, mas não para você brigar comigo porque eu estou lavando a louça de forma errada, sem seguir aquela sua regra maluca de separar tudo primeiro para depois começar.
A gente até que fez bastante coisas juntos, não foi? Mas é claro, para mim, a eternidade de aventuras ao seu lado, nunca seria o bastante. Eu sei que eu jamais iria me cansar das suas manias, eu até já havia aprendido a gostar de algumas delas, mas sei também que você jamais se acostumaria aos meus defeitos e provavelmente iríamos brigar na primeira lasanha errada que eu fizesse.
É tão difícil dizer adeus na vida real. Nos livros de romance que leio, as histórias acabam sempre de duas formas: ou com o final feliz, ou com a morte de um dos personagens. A nossa história está longe de ser um livro de romance, mas eu estou aprendendo a matar as lembranças que teimam em surgir e a enterrar as memórias dos nossos momentos juntos. Eu não tenho um personagem para matar, mas tenho uma história para enterrar.
A gente nem chegou a ir acampar juntos, não é mesmo? Também não tomamos aquele vinho em frente a uma lareira e não fizemos amor no banco do carro.
A gente compartilhou tantas histórias, engraçadas, malucas, filosóficas e até aquelas mais difíceis, as sinceras...
Sim, a gente foi sincero um com outro, não fomos? Que culpa você tem se eu não soube interpretar? Que culpa tenho eu se você não soube me amar?
Amar... quando foi mesmo que você sentiu isso pela última vez? Porque você sabe que é possível sentir mais de uma, não sabe?
É uma pena não ter acontecido comigo, eu nunca esperei um para sempre, mas confesso que desejei ouvir aquelas três palavras que agora, soariam como vazias para mim. Nem sei se algum dia elas voltarão a fazer algum sentido, a gente tem o hábito horrível de se fechar quando as coisas não saem como a gente espera e nos causa alguma dor, né?
Eu não quero me fechar não. Só quero mesmo é me curar. Só preciso encontrar o remédio para isso, o antídoto que será capaz de reverter isso que ainda circula em minhas veias e bombeia sangue para o meu coração. Isso, que tem nome de amor, com efeitos colaterais desastrosos.
E por falar em desastre, como faço para não tornar a minha vida em um, agora que não terei mais você para sustentar minhas avalanches emocionais?
Eu amo você, sabia? Mas não quero mais amar. Dizem que amar e não ser amado, é um dos piores sentimentos, eu agora acredito que sim, porque dói pra cacete.
Dói pra cacete também não compartilhar mais as minhas descobertas com você, dói não enviar mais mensagens e tampouco aqueles e-mails com alguma matéria interessante que nos rendia depois horas e horas de conversas ao telefone.
Nem o telefone tem mais graça sem você. Dele, nunca mais sairá a sua voz, que sabia como ninguém me fazer sorrir - e algumas vezes, chorar.
Eu to chorando agora. Mas vai passar, despedidas são assim mesmo, né? Quando a gente diz adeus sem querer soltar a mão, o coração sangra e os olhos extravasam a dor através das lágrimas, mas pelo menos agora, não há mais dúvidas. Todos os "e se" foram eliminados, porque na verdade, eles nunca existiram. Nunca existiu um "e se a gente ficar junto" porque para isso, você precisava me amar. Nunca existiu um "e se eu tivesse feito X coisa ou dito Y coisa, porque o resultado seria o mesmo: você não iria me amar e eu sou movida a amor.
Amor. Coisa besta que nos deixa besta. Alguém uma vez disse. Até parece que esse alguém estava se sentindo besta, não é não? Eu estou.
Eu também estou com saudades de você, mas está na hora, talvez isso nem seja um adeus, talvez seja um até breve, que pode durar um mês, um ano, ou o resto de nossas vidas. Eu vou sentir saudades, mas eu tenho estado aqui tanto por você que já nem lembro mais como é viver sem você. E isso não é bom, eu preciso saber como é o mundo lá fora sem você em meus pensamentos, eu preciso descobrir se alguém vai ser capaz de me amar mesmo com todos os meus defeitos. Eu preciso descobrir se tudo o que vivemos juntos foi real, ou apenas fruto de um amor platônico de uma garota mais platônica ainda.
Eu preciso não precisar tanto de você. Eu preciso não precisar de você e de querer fazer parte da sua vida, da sua história.
E por falar em história, tivemos uma bonita, não foi? Fomos amigos, cúmplices, confidentes e amantes. Fomos fogo, paixão, tempestade e calmaria.
Fomos o que tínhamos que ser, até não sermos mais.
Até não sermos mais.



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