terça-feira, 14 de março de 2017

Silêncio


( Esse texto foi escrito ao som de Turning Page - Aqui )

Olhou-a com aqueles olhos aveludados e contrariando todas as lógicas, a fez ouvir o silêncio, o silêncio que a queimava por dentro, que como se fossem espinhos, lhe rasgava a garganta e feria a alma. Um mal necessário. O efeito colateral de suas próprias emoções.

E escondendo as lágrimas e disfarçando a tremedeira, ela retribuiu com o mesmo silêncio. Entre o silêncio dela por não dizer e o silêncio dele por não responder, optou pelo o primeiro, ela já estava acostumada a ele.

Foi então que em silêncio, desejou que ele não a tivesse ouvido há algum tempo atrás, quando ainda estavam com as mãos entrelaçadas, que ela o chamara de "meu amor".

Doeu-lhe tanto esconder.

Queria ter contato a ele sobre os seus medos, sua saúde e seus sonhos. Queria ter dado a ele um adeus descente. Queria ter tido a coragem de buscar nele o conforto para a sua alma assustada.

Certa vez, ela ouvira alguém dizer que existia dois tipos de amor, o ruim e o bom e que a única diferença entre eles era que o primeiro implorava pelo amor de volta e o segundo, não esperava nada em troca. Abraçada a ele, teve que escolher qual dos dois amores era capaz de sentir, com qual dos dois era capaz de conviver, ciente de que seria uma escolha sem volta, se optasse pelo o amor ruim, iria eternamente viver à espera desse amor, e se escolhesse o amor bom, deveria ali, abrir mão de qualquer esperança de reciprocidade.

E ela escolheu.

Lembrando-se de uma frase de uma das personagens de Wood Allen, "Só o amor incompleto pode ser romântico" deu-se conta de que tratava-se dos mais belos dos amores, do amor bom, daquele tipo de amor arrebatador que nunca seria realizado, porque a magia daquele sentimento era justamente a idealização dele, deu-se conta de que ama-se pelas impossibilidades e não pelas possibilidades.

E então, em silêncio, ela o amou.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...