quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O livro que tudo sabe


Então, sabe o Livro que tudo sabe? Aquele que criei para me dar todas as respostas das quais eu não encontrava em lugar algum?
Ele tem sido útil desde que passei a questionar os porquês da vida.

Se eu pergunto a ele se devo lhe procurar, ele não demora a me repreender e e a dizer com a voz firme e o sotaque estrangeiro, que não. Mas você me conhece melhor do que ninguém, sabe que não me contento com um não, por isso, eu teimo em questioná-lo porquê e com uma voz implacável, ele apenas responde porque é o certo a fazer.

Mas por que ele acha que lhe procurar é errado se você me faz bem?

As coisas que nos fazem bem, que nos deixam felizes, nunca, jamais, deveriam ser erradas.

Sabe, às vezes, nos dias mais solitários, nos dias em que a saudade aperta e as lembranças dominam os meus pensamentos, pergunto a ele se foi real. Se eu, nós, realmente vivemos tudo aquilo que penso que vivemos. Talvez seja porque com o passar do tempo, com a distância, com o afastamento inevitável, a gente acabe perdendo a noção do que fato era verdadeiro e o que era momentâneo. Ele sempre me da a mesma resposta: que somente eu sou capaz de dizer se foi real ou não.

- Será que nós amávamos as possibilidades e não o fato si? - perguntei um dia a ele, afinal pode ser isso, não pode? Aquilo que a gente julgou ser verdadeiro, forte, pode ser na verdade apenas um amor à ideia de nós dois, porque parecia que eramos o casal perfeito, mesmo sendo tão imperfeitos um para o outro, e no fim das contas, a gente talvez tenha amado isso, uma ideia apenas.

Às vezes, o livro que tudo sabe, me irrita um pouco. Fui eu quem o criei, porque ele não pode simplesmente me dar as respostas que quero ouvir?

Quais são essas respostas?

Bom, eu gostaria de ouvir ele dizer que, como na música do Biquíni Cavadão, em algum lugar no tempo, nos ainda estamos juntos. Queria também que ele dissesse que a mesma vontade que tenho de estar com você, você tem de estar comigo, que cada palavra e cada promessa silenciosa, não foi em vão nem tampouco uma brincadeira.

Queria que ele dissesse que ainda haverá tempo para nós e que ele não mais vez ou outra, jogue na minha cara que eu fui covarde demais ao assumir tardiamente os meus sentimentos, que eu os escondi por fraqueza e isso me fez perder você.

- Isso vai passar algum dia? - perguntei a ele certa vez, após ter ouvido o seu nome ser pronunciado por alguns amigos em comum. Naquele momento, só de ouvir o seu nome, meu corpo estremeceu, mergulhado em um misto de raiva e saudades e eu desejei muito que aquilo, que eu havia dado nome há pouco tempo, passasse.

Aquilo era amor.

- Só vai passar quando você realmente deixar que passe. - Essa foi a resposta que o livro que tudo sabe me deu.

Ele é sempre tão enigmático que às vezes penso que na verdade foi você quem o criou. Vocês são tão parecidos.

- E por que você acha que não quero que passe? - perguntei, irritada com a sua quase acusação.

- Porque você é feliz com as lembranças. - respondeu, e se livros sorrissem, eu diria que ele estava sorrindo vitorioso para mim.

É... o livro que tudo sabe, sabe mesmo das coisas. Ele estava certo. As lembranças me deixam feliz, mesmo quando me ferem algumas vezes.


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