segunda-feira, 6 de julho de 2015

Tinha que ter dito

Eu acordo assustada, com aquela estranha sensação de que o sonho – ou melhor – pesadelo, era real. Pego o celular. Três e quinze da manhã. O jogo ao meu lado na cama e então me dou conta de que a única coisa que há ao lado do meu travesseiro, é outro travesseiro. E  com os olhos fechados, me dou conta de que o pesadelo não é aquele que acontece enquanto eu durmo. O pesadelo mesmo, acontece todos os dias, quando eu acordo e sou atropelada pela a realidade crua e esmagadora de que eu perdi aquele que deveria ser – por uma conspiração do universo – o amor da minha vida.

Fecho os olhos desejando voltar para o pesadelo, pelo menos você estava nele, mesmo que em uma imagem borrada e distorcida, eu conseguia enxergar um quase sorriso em seus lábios. Estávamos nos despedindo. Não dissemos adeus. Não dissemos até logo ou até um dia. Era uma despedida silenciosa, onde os nossos olhares diziam aquilo que nossas bocas não conseguiam pronunciar. E é por isso que era um pesadelo, porque havia tanta coisa a ser dita naquele momento de despedida compartilhada, tantas palavras gritando desesperadamente para sair, tanta coisa que eu queria ter dito. Tinha que dito…

E eu não disse. Eu não olhei nos seus olhos e disse que o amava. Não segurei o seu rosto entre as minhas mãos para que você pudesse me olhar e ter um vislumbre do que eu realmente sentia – e ainda sinto – por você. Eu apenas o deixei partir, como se estivéssemos em uma estação de trem, eu o vi embarcar e não me movi. Seus olhos, através da janela do trem, pareciam implorar para que eu fizesse algo. Eu tinha que ter dito.

Você se foi. Não de trem, mas se foi. Partiu para algum lugar que não sei onde. Em busca de algo que não sei o que é. Apenas partiu. E um buraco se abriu dentro de mim. Eu tinha que ter dito. Porque está difícil engolir as palavras que ficaram travadas em minha garganta. Cada vez que tento, como se fossem facas afiadas, elas parecem me rasgar, estou forçando a natureza delas, palavras como essas que não pronunciei, não foram criadas para serem silenciadas por covardia, não, elas só fazem sentido e ganham força, quando são pronunciadas.

É… eu tinha que ter dito que te amava.

Mas eu não disse. E agora tudo o que me resta é decidir se fecho os olhos e volto a dormir, para quem sabe, ter a sorte de ter o mesmo pesadelo e me contentar em vê-lo nele, ou se continuo acordada e me torturo mais um pouco por não ter dito… Aquilo o que eu tinha que ter dito.

(Texto publicado originalmente para o site Puta Letra - clique aqui e curta )

3 comentários:

  1. Não compreendi,porque amor sempre ocorrerá entre iguais.Nada de mendicância afetiva,e quando ocorrer um rompimento necessário,é importante o luto e aceitação,mas sabendo que as rosas voltarão a nascer outro dia.Abraço Walter Castro

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  2. Não compreendi,porque amor sempre ocorrerá entre iguais.Nada de mendicância afetiva,e quando ocorrer um rompimento necessário,é importante o luto e aceitação,mas sabendo que as rosas voltarão a nascer outro dia.Abraço Walter Castro

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    1. Querido Walter, adorei as palavras e concordo, o amor sempre ocorrerá entre iguais. Não dá para amar sozinho, mas isso não significa que não aconteça e quando acontece, acredito que a única forma de superar e seguir em frente, é dizendo o que sente, assim, a pessoa que ama sozinha, ficará livre para encontrar o amor em alguém que lhe amará de volta. Obrigada por comentar, adorei! Abraços.

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