domingo, 6 de outubro de 2013

Reticências


Primeiro os olhares, tímidos e ao mesmo tempo, intensos. Depois, os sorrisos, daqueles que pouco mostram os dentes, daqueles dados pelo canto da boca. Aí vieram as palavras, os pontos de exclamações, os pontos de interrogações, as aspas e por fim, a reticências. Esses três pontinhos deram o inicio ao improvável, sugerindo o que estava por vir.

Tudo mudou, começou então as palavras não ditas, os sentimentos não expressados, as vontades demonstradas, os desejos revelados e a promessa feita em silêncio de não se apaixonarem. Foi por brincadeira, foi por desejo, foi por vontade, foi por tudo e por nada, menos pelo desejo de se apaixonarem que eles deram vazão ao infinito poder da reticências. A regra não dita estava instalada. Eles iam curtir cada segundo dessa relação fria e ao mesmo tempo quente, mas, sem jamais permitirem que a paixão os dominassem e os deixassem perdidos um no outro, um pelo outro.

Eu não vou me apaixonar por você. Ela diz, convicta de suas palavras. Que pena, seria legal se isso acontecesse. Ele responde, é claro, de brincadeira, porque no fundo, os dois estavam seguindo a mesma promessa silenciosa. 

Foram beijos verdadeiros, abraços sinceros, amor na cama e tesão no chuveiro. Foram noites e mais noites de conversas banais, foram dias e mais dias de desabafos. Foram meses, mais que meses. E tudo estava indo bem a não ser pelo fato dela ter quebrado a promessa silenciosa. A reticencia assumiu o controle da situação e ela se apaixonou. 

O que você quer que eu faça se estou apaixonada por você  e não sei o que fazer? Ela diz, um pouco assustada com as próprias palavras. Sabia que essa é a primeira vez que você diz algo assim tão direto? Ele fala, em resposta à sua pergunta. Eu sei, desculpa. Ela responde, desejando ter o poder de voltar ao tempo e nunca ter dito para ele o que estava sentindo. Tarde demais. O silêncio se fez. Ela sentiu medo, acho que ele também. Foram pegos de surpresa, foi mais uma pegadinha que a vida lhes pregou.

Ela chorou. Chorou porque ele havia tornado a sua vida mais bonita e mais leve, chorou porque ele foi capaz de lhe tirar sorrisos e lhe fazer suspirar, chorou porque ela sabia que com a promessa quebrada, nada mais lhe restava. 

E foi assim. A história deles começou com a reticências e foi com ela que acabou, ou, não acabou. Porque no fundo, ela ainda espera pelo ponto final, onde ele dirá para ela que sente o mesmo.


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