sexta-feira, 31 de março de 2017

Ao menos que...




Ele não era muito de falar. Não sobre seus sentimentos. Não com ela.
Ele podia conversar sobre astrofísica, sobre as pirâmides do Egito, sobre Deus ou sobre música, mas se dizia ser totalmente inapto a falar sobre o que sentia, como se houvesse nele uma espécie de bloqueio.
Quem era ele afinal? Como poderia ser tão fechado se sabia detalhar com maestria detalhes sobre ela que ninguém mais era capaz? Por que então se dedicava tanto a observá-la se não podia amá-la?
Qual era o seu temor que o fazia controlar as palavras e talvez, esconder seus sentimentos?
Ele era a manifestação da palavra incoerência, porque não fazia sentido o cara que possuía na memória lembranças vivas sobre ela, ser tão frio como ele mesmo costumava dizer ser.
Do que ele fugia? Como era possível ele se apaixonar e até amar todas e não sentir nada por ela? Logo ela, que segundo ele, era a única mulher com quem ele tinha uma conexão de verdade.
O que era ela para ele afinal? Seu passatempo? Sua válvula de escape? Seu equilíbrio?
Será verdade o que dizem: Que se não é possível dar nome a um sentimento, é porque ele não existe?
Pela primeira vez, ela desejou ter dele aquilo que qualquer outra pessoa tinha, menos ela. E se odiou por não ter.

quarta-feira, 29 de março de 2017

domingo, 26 de março de 2017

Que história você irá contar?



Você  vai vivendo e levando a vida, muitas vezes mais pelo impulso do que pelo propósito. Você acredita que está no controle só porque está constantemente fazendo escolhas, quando na verdade, está sendo manipulado por elas. Você vive como se fosse possível viver de novo a mesma vida, mas, basta uma notícia, um fato, um acontecimento, para fazê-lo sair do estado de inércia e passar a questionar a si mesmo se é assim, tão independente e tão dono do seu próprio destino.

Não precisa de muito, não é necessário uma sentença de morte ou uma perda grande e irreparável, apenas um sopro de tais sensações, apenas uma possibilidade, apenas a angustiante dúvida, a espera de um parecer que poderá ser a sua salvação ou condenação, já é o suficiente para fazê-lo duvidar de que se está realmente fazendo aquilo para o qual nasceu para fazer.

Você começa a questionar quando sente medo. Você começa a reescrever mentalmente a sua história e suas escolhas, quando a iminência de algo ruim o assombra, quando verdadeiramente sente que vai perder, se perder, ou perder alguém.

Você passa a indagar a sua existência quando permite que a incerteza do amanhã a corteja. Você a convida para se deitar com você e ambos não conseguem dormir. Será que fiz tudo o que eu tinha que fazer? Será que disse todas as palavras que tinha que dizer? Será que amei o suficiente? Será que fui amado o suficiente?

Perguntas como essas passam a ser suas companhias mais íntimas e secretas e sem saber as respostas, por precaução, apenas por precaução, lentamente você começa a se despedir de tudo e quando isso acontece, milagrosamente, você passa a reparar nos detalhes. Você observa o sol com admiração, olha para a lua com gratidão, encara o céu estrelado e se permite contar as estrelas, brinca de descobrir desenhos nas nuvens, curti as gotas de chuva que caem em seu rosto, sorri para um cachorro trapalhão, se encanta com uma flor no meio de nada.

Coisas pequenas, se tornam grandiosas. E as grandiosas, os problemas do dia a dia, se tornam pequenos.

Existem pessoas que vivem por oitenta anos e pouco possuem para contar, tudo porque viveram mediocremente, fugindo de qualquer adversidade, se escondendo de seus próprios sentimentos, tentando levar a vida mais pacata possível, se protegendo de frustrações, de se magoar e de magoar alguém.

E eu me pergunto: Que histórias essas pessoas irão contar?

Assim como, existem pessoas que em tão pouco tempo de vida, já viveram tanto que se a vida acabasse ali, naquele ponto, teriam não um, mas talvez três ou quatros livros contanto as suas histórias.

Talvez, o grande erro seja deixarmos as coisas para uma ocasião melhor que jamais chega. A gente tem por hábito, viver a vida como se ela fosse apenas uma simulação da vida real, como se pudéssemos viver duas vidas, e então, deixamos de lado o que realmente importa, com a intenção de para quem sabe, viver no futuro.

O futuro que você não sabe se chegará para você.

E então você se dá conta de que não se pode gastar o seu próprio tempo ensaiando o presente. Ele é a única certeza que você tem e não importa quanto tempo ele dure, ele sempre será o seu presente se você souber o que fazer com ele.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Calmaria




Ele a segurou e tocou-lhe o rosto.
Olhando nos olhos dele, ela deslizou os dedos através de de seus cabelos e suspirou, desejando profundamente ser capaz de jamais se esquecer daquele momento. Ela gostaria de poder congelar aquele pequeno instante de felicidade, onde seu coração trabalhava mais forte do que ela mesma podia suportar, só para que sempre que estivesse triste retornasse àquele dia e a lembrança dele a aquecesse nas noites solitárias.

Trocaram carícias com o olhar, não havia pressa, não havia urgência, era como se não houvesse mais ninguém no mundo, como se fossem os únicos habitantes dele. Eram eles. Somente eles. E todas as suas emoções e sentimentos.

E então eles se amaram.

Não foi como uma explosão de fogos de artifício em noite de ano novo ou como um grito de vitória após um campeonato difícil, foi como um passeio de barco em um oceano de águas calmas, foi como tocar as nuvens enquanto gotas frescas caiam delas.

Eles se amaram através de olhares.
Se amaram ao se tocarem.
Se amaram até através das frases não ditas.

Ao ritmo de uma melodia nostálgica, velejaram juntos desbravando oceanos. Perderam-se e encontraram-se e ela nunca teve tanta certeza de que ali era o seu lar como teve naquele amanhecer ensolarado.

E quando acabou, descobriu que havia conseguido. Ela havia eternizado dentro dela, em suas lembranças, aquilo que somente ele era capaz de oferecer-lhe, e ela soube que jamais o esqueceria por isso.


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terça-feira, 14 de março de 2017

Silêncio


( Esse texto foi escrito ao som de Turning Page - Aqui )

Olhou-a com aqueles olhos aveludados e contrariando todas as lógicas, a fez ouvir o silêncio, o silêncio que a queimava por dentro, que como se fossem espinhos, lhe rasgava a garganta e feria a alma. Um mal necessário. O efeito colateral de suas próprias emoções.

E escondendo as lágrimas e disfarçando a tremedeira, ela retribuiu com o mesmo silêncio. Entre o silêncio dela por não dizer e o silêncio dele por não responder, optou pelo o primeiro, ela já estava acostumada a ele.

Foi então que em silêncio, desejou que ele não a tivesse ouvido há algum tempo atrás, quando ainda estavam com as mãos entrelaçadas, que ela o chamara de "meu amor".

Doeu-lhe tanto esconder.

Queria ter contato a ele sobre os seus medos, sua saúde e seus sonhos. Queria ter dado a ele um adeus descente. Queria ter tido a coragem de buscar nele o conforto para a sua alma assustada.

Certa vez, ela ouvira alguém dizer que existia dois tipos de amor, o ruim e o bom e que a única diferença entre eles era que o primeiro implorava pelo amor de volta e o segundo, não esperava nada em troca. Abraçada a ele, teve que escolher qual dos dois amores era capaz de sentir, com qual dos dois era capaz de conviver, ciente de que seria uma escolha sem volta, se optasse pelo o amor ruim, iria eternamente viver à espera desse amor, e se escolhesse o amor bom, deveria ali, abrir mão de qualquer esperança de reciprocidade.

E ela escolheu.

Lembrando-se de uma frase de uma das personagens de Wood Allen, "Só o amor incompleto pode ser romântico" deu-se conta de que tratava-se dos mais belos dos amores, do amor bom, daquele tipo de amor arrebatador que nunca seria realizado, porque a magia daquele sentimento era justamente a idealização dele, deu-se conta de que ama-se pelas impossibilidades e não pelas possibilidades.

E então, em silêncio, ela o amou.


quarta-feira, 8 de março de 2017

terça-feira, 7 de março de 2017

Certezas




O que é mais sensato? Dar o próximo passo somente se tiver certeza ou, pisar sem enxergar e acreditar que a certeza vem com ele?

Eu não sei.

O que sei é que não se pode trabalhar em algo que não se tem a certeza de que gosta, não se deve cursar uma faculdade sem ter a certeza de que é o que quer para si, não se deve estar com alguém que não tem a certeza de que quer realmente estar com você.

A certeza é como um porto seguro, um ponto de apoio, e talvez, algumas vezes, uma âncora. Mas ela não é a garantia e nem pode ser, ela é apenas manifestação da vontade.

Está calor, um dia lindo de sol, você olha para aquela ponte acima do rio e tem certeza de que quer mergulhar nele pulando dela, mas não tem certeza se vai sentir medo quando estiver em queda livre e nesse caso, certeza e incerteza travam uma batalha. Quem ganhará? A sua vontade ou o seu medo?

Se a sua certeza for real, ela certamente será mais forte do que o medo, mas, se ela estiver carregada de dúvidas, apenas não pule. Fique onde está, aprecie a vista e volte para trás.




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segunda-feira, 6 de março de 2017

Ele não era "ele"


Em sua camisa azul escuro impecável, ele sorriu ao vê-la e estendeu a mão para ela. Reticente ela tentou esconder o que lhe apavorava. Ela nunca tivera a intenção de magoá-lo e queria que ele soubesse disso, mas temia não ser capaz de explicar aquilo que não tinha explicação.

Ele não era "ele".

Era um cara incrível, dono de um sorriso estonteante e ela apreciava o seu senso de humor e também sua beleza. Ele a fazia sorrir, a distraía e na maioria das vezes, preenchia as lacunas vazias escondidas em seu coração, mas, ele não era "ele" e ela não sabia como dizer isso sem que as suas palavras o ferissem, logo ela, que já fora tantas vezes ferida, estava prestes a se tornar a vilã da história, estava prestes a se tornar "ele".

Ainda sorrindo, ele caminhou até ela e segurou o seu rosto entre as mãos. Ele percebeu o que estava prestes a acontecer, mas decidiu ignorar. Com a ponta dos dedos, tocou os lábios dela com tanto zelo que a fez suspirar e então, ao invés de prometer dar o mundo a ela, prometeu apenas dar amor, e isso a paralisou.

E oras, não era exatamente isso o que ela vinha buscando há tempos?

De um jeito que somente ele sabia fazer, piscou o olho para ela e sorriu, ele sabia o quanto isso a afetava, nem mesmo ela, que estava decidida a não mais vê-lo, não conseguia ficar imune ao sorriso dele.

Era o momento em que ela tinha que decidir seguir em frente como se tudo estivesse bem, aceitando que ele não era "ele", ou, desistir da busca incessante por aquilo que ela havia encontrado nele.

Porque ele não era 'ele".

E ela decidiu. Optou por desistir da sua busca, escolheu permanecer onde está, sem "ele", do que caminhar com alguém que não fosse o seu "ele".  E olhando nos olhos daquele que lhe havia prometido tanto amor, se despediu, dizendo a ele que ela, jamais poderia ser para ele, "ela" que ele merecia.

Então, ali mesmo, ela jurou para si jamais procurar o seu "ele", em outros eles.

domingo, 5 de março de 2017

Voe em paz







Como será viver em um mundo em que você não existe mais?
Eu sempre me fiz essa pergunta quando ainda não tinha notícias suas. Agora eu sei como é.
E eu posso dizer que é pior do que eu imaginava.
Dói pra cacete! Dói porque eu não sei como foi a sua partida, não sei se ainda estava sofrendo antes de ir e se ela foi a sua libertação, não sei se estava sozinho ou se alguém pelo menos lhe deu consolo nos últimos momentos. Dói porque eu sei o quanto o mundo foi cruel com você e o quanto você mesmo foi, você não soube jogar o jogo, não soube lidar com as frustrações que a vida causa, se perdeu e nunca mais se encontrou.
E como rezei para que se encontrasse. Como desejei que você encontrasse a tão esperada luz no fim do túnel. Como esperei para que você chegasse ao seu fundo do poço e tivesse forças para dar um impulso e então, retornasse à superfície.
Você já tinha conseguido uma vez. Eu tinha esperanças que conseguisse de novo.
Mas não aconteceu. Você se afogou.
Quer saber? O mundo é que não estava preparado para a sua ingenuidade e sensibilidade, eu conheci o seu melhor e o seu pior e é por isso que tenho tanta certeza de que você foi e sempre será alguém especial, o anjo de pele pálida e sorriso triste que me ensinou a amar.
Você me fez ser forte, me mostrou o quanto eu podia aguentar, mesmo quando eu acreditava que não.
Você me ensinou a ter fé. E mesmo agora que você não está mais aqui, eu me apego à essa fé porque preciso dela para acreditar que se ainda não está em um lugar melhor, um dia, em breve, estará.
Da pior maneira possível, você me ensinou uma das lições mais importantes da minha vida: a apreciar o hoje, a viver o só por hoje. Era o que acontecia nos dias em que você vencia as drogas ao invés delas vencerem você.
Eu só queria ter podido dizer que eu jamais me arrependi. Que apesar de toda dor, apesar de todo sofrimento, ter conhecido alguém com uma alma tão pura, foi uma honra.
Descanse em paz, anjo Gabriel. Que o Poder Superior o perdoe pelas as suas fraquezas e o receba de braços abertos.
Que você me perdoe por eu não ter tido forças os suficiente para continuar e saiba que não há nada que eu precise perdoar em você.
Eu conheci um anjo, e só por isso, digo que Valeu A Pena.


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