domingo, 13 de setembro de 2015

Eu não era a Cinderela


Ele não chegou montado em um lindo e majestoso cavalo branco, vestido em um imponente traje de príncipe encantando e com um sapatinho de cristal nas mãos à procura da sua Cinderela. Para ser sincera, eu já nem me lembro mais com qual roupa ele estava quando aquilo – que a gente chama de se apaixonar – aconteceu.

Mas eu lembro exatamente do que senti naquele dia.

O nosso primeiro beijo não foi um beijo de cinema com direito a trilha sonora de fundo – mas se eu pudesse escolher, teria escolhido Chasing Cars – ele foi tenso. Duro. Repleto de anseios, vontades e medos.

E ainda assim, foi o melhor primeiro beijo da minha vida.

As suas palavras não eram doces como um pudim de leite. Ele não tentou me ganhar recitando Drummond ou Shakespeare. Ele foi sincero desde o começo, demonstrando a sua total ineficiência e inabilidade em ser um verdadeiro príncipe.

E eu nem mesmo queria que ele o fosse.

Quando me tocou, ele não exaltou o quão suave era sentir a minha pele sob os seus dedos. Ele simplesmente sorriu e naquele momento eu fui dele, eu me entreguei a ele no exato instante em que senti que já não fazia mais sentido me esconder dentro de mim mesma. Eu apenas senti o seu toque e palavra nenhuma precisou ser dita para representar aquele momento de entrega e redenção.

Ele não se agachou sobre os seus joelhos e estendeu para mim uma caixa de veludo preta com um anel de diamantes dentro. Não houve pedido de casamento. Nem namoro. Ele apenas pediu para que eu o deixasse pertencer ao meu mundo e esse, foi um pedido silencioso.

E eu deixei.

O que tivemos, não teve rótulos. O que sentimos, não foi falado. O que vivemos, foi apenas, vivenciado. Onde cada minuto ao lado dele, era um minuto de felicidade. Cada sorriso dado foi com toda certeza o meu sorriso mais verdadeiro. E cada lágrima, a mais dolorida.

Mas acabou. Não teve um final feliz, e tampouco infeliz. Apenas teve um fim e, nós fomos um do outro sem sermos. Sem expectativas. Sem cobranças. Sem sonhos irreais, tudo porque ele não era um príncipe encantado e nem eu a Cinderela.

Texto publicado no site Puta Letra - Aqui

domingo, 6 de setembro de 2015

Como um livro que você leu


No começo vai doer. E você vai fingir que não.

Você vai chorar silenciosamente sentindo como se tivessem quebrado o seu coração em mil pedaços. E provavelmente tenham.

Vai ter dias, que você vai desejar não lembrar. Vai implorar para que o tempo passe como um cometa e leve com ele todas as lembranças daquela época que você acreditou que nunca iria passar.

Pode ser que você ainda o veja por algum tempo em todos os lugares, em todos os rostos e em todos os sorrisos.

Provavelmente, por um bom tempo, cada vez que olhar um casal feliz, inevitavelmente se lembrará de um casal que também foi igualmente feliz: vocês.

Eu queria dizer que as músicas que vocês ouviam juntos e que pareciam contar a história da vida de vocês, com o passar do tempo, vão ser apenas músicas, mas, não posso fazer isso, porque nem uma década será capaz de apagar as lembranças que uma música compartilhada entre um casal apaixonado, carrega. Elas serão o seu castigo e a sua salvação. Elas farão você lembrar dele e talvez isso lhe cause dor, mas também lhe trarão boas lembranças, quando você lembrar dele.

Mas, ainda assim, eu te digo que isso vai passar. Você vai se lembrar menos dele a medida que novas noites terminem e novos dias comecem.

E no fim, com o passar dos anos, ele vai ser como um livro que você leu. Vai ser como uma daquelas histórias que nos preenchem o coração e a alma quando estão sendo lidas, que nos enchem de esperança a cada página virada, que nos tiram lágrimas e também suspiros, mas, que como toda e qualquer história, que terminam.

Talvez ele se torne o seu personagem literário favorito. Ou, talvez, outros personagens apareçam, em outras histórias, em outros livros, mas ainda assim, acredite, se ele foi realmente importante, ele sempre estará na sua estante de livros como o livro que um dia lhe proporcionou uma infinidade de pequenos instantes de felicidade.

Texto publicado originalmente no site Puta Letra (aqui)
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